MEDICINA/EVIDÊNCIA

O beijo não deixa espaço para nada. Quando se está beijando, a cabeça se fecha, o juízo vai embora e a razão sai para passear sem hora para voltar. A coisa é tão boa, que quando acaba deixa vontades e abre caminhos para se engendrar estratégias que permitam o repeteco. É só depois de as bocas se despedirem que a mente volta a refletir, a cabeça a pensar e o poeta a desenhar emoções que tentam perpetuar aquele sabor. Drummond, por exemplo, fez o universo todo caber dentro dele, ao dizer que “amor é grande e cabe no breve espaço de beijar”.
Beijo é um negócio tão impressionante que até o ruim é bom. Quem não tem uma boca ali por perto, no jeito, se contenta em assistir a uma cena apaixonada, e constrói no coração a sua própria Deborah Kerr (ou seu Burt Lancaster) para rolar na praia “a um passo da eternidade”. Mas, infelizmente, os beijos não são famosos apenas por aproximar almas enamoradas. Há aqueles que são apenas formais, como os aplicados pelos cossacos russos quando se cumprimentam. São um mero aproximar, onde os lábios nem ao menos encostam nas faces, ou os famosos “três pra casar”, sem falar do beijo traiçoeiro do Judas dos Evangelhos.
Quem recebe esses ósculos que em verdade mais afastam do que aproximam pode inicialmente até esperar aquele calor que brota por dentro, mas logo se decepciona. O tratamento da COVID com ivermectina (SIC) e com o plasma de infectados foram duas promessas dessas que esfriaram antes de acender a chama. Os cientistas fizeram o papel de soldados da legião romana e se encarregaram de sepultar as esperanças. Foi isso que mostrou a última edição do JAMA, que publicou a metanálise entitulada NEW INSIGHTS INTO IVERMECTIN AND CONVALESCENT PLASMA FOR OUTPATIENTS WHIT COVID-19. Ao comentar os resultados o Dr. Rajesh T. Gandhi disse no The New England of Medicine, que o tratamento com Ivermectina não apresentou nenhum benefício clínico apesar das promessas iniciais.
É o beijo do adeus.
(Quem se interessar por maiores informações, basta conferir os originais: https://doi.org/10.1001/jamainternmed.2022.0189 , além de New Insights into Ivermectin and Convalescent Plasma for Outpatients with COVID-19 Rajesh T. Gandhi, MD, reviewing Reis G et al. N Engl J Med 2022 Mar 30 Sullivan DJ et al. N Engl J Med 2022 Mar 30).

  • Dr. Manoel Paz Landim (Cardiologista, Mestre em Medicina pela FAMERP, Preceptor e Médico do Ambulatório de Hipertensão do Departamento de Clínica Médica da FAMERP, São José do Rio Preto)
Ao comentar os resultados, o Dr. Rajesh T. Gandhi disse no
The New England of Medicine, que o tratamento com Ivermectina não apresentou nenhum benefício clínico
apesar das promessas iniciais

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