MEDICINA/EVIDÊNCIA

Eu já apresentei pra vocês aqui neste mesmo espaço as estripulias do meu vizinho, o fazendeiro Véio Abel. E tenho aprendido muito com ele: Desde a hora de deixar um pasto vazio pra se recompor, até curar um umbigo de bezerro com remédio caseiro. Isso sem falar nos remédios caseiros para tosse (mel, café com banha de galinha) e para outros para males menos respeitáveis (chá de broto de goiaba e as folhas da goiabeira) como as caganeiras dos gulosos. O Véio tem sabedoria.
Na vida daquele lavrador, aprender, ensinar, conhecer e saber são muito mais que palavras. São as verdadeiras forças que movem a humanidade, ainda que ele não tenha noção da profundidade da sua genialidade. Não que as suas beberagens sejam o supra sumo da ciência, mas são a marca da sagacidade e da curiosidade que a sobrevivência exigiu. Nesse sentido, o Professor Rodrigo Zeidan chega até mesmo a dizer que “enquanto alguém tiver curiosidade intelectual, a vida sempre vai valer a pena”.
Este professor, que tem as letras e títulos necessários para autorizar suas palavras, traz suas constatações para os dias modernos, lembrando que hoje “temos todo o conhecimento do mundo na palma das nossas mãos para usarmos como quiser. Vivemos na era da abundância da informação”. O famoso “Arco de Maguerez” (que se constitui de cinco etapas: observação da realidade e definição do problema, pontos-chave, teorização, hipóteses de solução e aplicação à realidade) se baseia na mobilização e na estimulação dos saberes, formando a atualíssima Metodologia da Problematização.
E é neste ponto que volta o exemplo do Véio Abel. Ele foi estimulado pela necessidade de sobrevivência e mobilizado pelos exemplos de quem esteve lá antes dele. Já Moisés, o profeta hebreu que protagonizou o Êxodo, demorou quarenta anos fazer seu povo percorrer os 745 quilômetros que separam o Egito de Israel, distância possível de se vencer em 35 dias? Será que ele era um condutor tão ruim assim, a ponto de não enxergar a coluna de fogo nas noites e a fumaça nos dias, que o Senhor lhe apresentava pelo caminho?
– Não!
Moisés sabia que para se conquistar a liberdade é preciso, antes, esquecer o que é ser escravo. O seu povo hebreu não conhecia outro modo de vida que não fosse o cativeiro. Seria necessário, então, que esquecer o passado antes de desenhar o próprio destino fizesse parte da cultura individual e coletiva. A atualíssima teoria da problematização tem, então, três mil e quinhentos anos. A curiosidade intelectual, e a experiência de saber ditada pelo Véio Abel vão funcionar sempre que o aprendiz conseguir enxergar a necessidade de aprender.
Paulo Freire também disse que “não existe ensinar sem aprender”, embora direcionasse esse postulado ao processo pedagógico. Ensinar e aprender são ações biunívocas que pedem para esquecer antes de incorporar o novo.
O mar vermelho já está aberto para a passagem do conhecimento de quem queira ser seu próprio guia.

  • Dr. Manoel Paz Landim (Cardiologista, Mestre em Medicina pela FAMERP, Preceptor e Médico do Ambulatório de Hipertensão do Departamento de Clínica Médica da FAMERP, São José do Rio Preto)
Nesse sentido, o Professor Rodrigo Zeidan chega até mesmo a dizer que “enquanto alguém tiver curiosidade intelectual, a vida sempre vai valer a pena”

Comments are closed.