Nosso querido cronista Ruy Castro, o mesmo das biografias de Carmem Miranda e Garrincha, merecidamente alcançou a Academia Brasileira de Letras e não dispensou nenhuma formalidade. Nem o fardão. Confesso ter sido no mínimo curioso ver as fotos da posse, onde ele aparecia envergando o verde e dourado ao lado da Fernanda Montenegro igualmente uniformizada. Esse retrato não combina com o Ruy desenhado na minha imaginação. Boêmio, copo de chopp na mão, bonachão, sem cerimônia, relembrando como era comer de pé na barraquinha do Angu do Gomes na Praça XV.
Algumas coisas são assim mesmo: não combinam! (ou não conjuminam, como falamos em tom de brincadeira). Para quem quiser, cito outro exemplo também muito atual, representado pelo tal programa “mais médicos” ressuscitado aos oitenta dias do novo governo. O ministério da saúde se apropria do imaginário popular para rechear de diabos as boas intenções necessárias. Explico.
O Brasil possui sim regiões completamente carentes DE TUDO e não apenas de atendimento médico. Se alguém duvidar, basta conferir a publicação da Agência Senado de 14 de outubro de 2022 dando conta dos 58,7% da população brasileira convivendo com a insegurança alimentar em algum grau: leve, moderado ou grave. Esses números traduzem uma coisa só: 33,1 milhões de brasileiros passam fome. Se não têm comida, infelizmente é natural também não terem casa, escola, trabalho e nem saúde.
Igualmente é uma consequência um adoecimento maior dessa parcela da população. Com quais doenças? – erraremos se restringirmos nossas hipóteses apenas às doenças infecciosas. Esses brasileiros terão moléstias tão graves quanto as dos seus conterrâneos das regiões mais ricas do país. Serão diabéticos, hipertensos, cardiopatas e portadores de neoplasias necessitando do mesmo tratamento de ponta disponíveis aos moradores da avenida paulista. E diagnóstico e tratamento só se fazem com tecnologia e especialistas. Os egressos de escolas médicas estrangeiras (cubanos ou não) sem submissão ao revalida seriam os mais capacitados? (vide Gustavo Lopes Alves no Estadão de 22 de março de 2023).
“Mais médicos” sem especialistas, sem tecnologia, sem suporte farmacêutico-hospitalar, sem garantia alimentar, sem acesso a educação, moradia e saneamento, são como Ruy Castro e Fardão da ABL: Não combinam. Seria esperado algum aprendizado após os (tantos) erros do primeiro programa, mas bom senso e atitudes também não combinam com governos.

Algumas coisas são assim mesmo: não combinam! Para quem quiser, cito outro
exemplo também muito atual, representado pelo tal programa “mais médicos”

Dr. Manoel Paz Landim
(Cardiologista, Professor da FAMERP de São José do Rio Preto)

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