Uso de telas pode levar a miopia

Giana Rodrigues

Todo mundo conhece alguém que usa óculos para miopia, mas esse número pode se tornar cada vez maior ao longo dos anos devido à exposição da população a dispositivos eletrônicos que exigem da visão.

Em pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO), a miopia foi o problema autodeclarado mais frequente entre os brasileiros com 43,2% dos brasileiros se identificando como míopes. Proporcionalmente, o problema é maior nas faixas etárias entre 16 e 49 anos e nas faixas com nível educacional mais elevado (vide relatório final no site da SBO: www.sboportal.org). Estes dados são exatamente os mesmos obtidos em outras partes do mundo, que apresenta aumento exponencial do número de casos de miopia. A OMS estima que em 2030 o número de míopes ultrapasse os 3 bilhões no mundo.

FUTURO

Em 2020, cerca de 30% da população mundial era diagnosticada com miopia, sendo 4% classificados como altos míopes – pacientes que superam 5 graus. As projeções, entretanto, indicam que, em 2050, em torno de 50% da população global será considerada míope, e 10%, altos míopes.

Em entrevista ao Jornal de Jales, a médica oftalmologista jalesense Mirian Caparroz Nogueira da Rocha, confirmou os dados divulgados: “já existem vários estudos que indicam que o uso excessivo de telas pode ser prejudicial à visão, e há uma crescente preocupação sobre o impacto das telas no desenvolvimento da miopia, especialmente em crianças”.

A proximidade das telas e a falta de exposição à luz natural são algumas das principais causas do impacto na visão.

Além do aumento no risco de miopia, o uso excessivo de telas pode causar outros problemas visuais, como fadiga ocular digital, que inclui sintomas como olhos secos, visão embaçada e dores de cabeça; e síndrome da visão de computador, que pode também causar desconforto físico, como dor no pescoço e nos ombros.

PREVENÇÃO

Algumas medidas preventivas podem reduzir o risco de problemas visuais associados ao uso de telas:

• Regra 20-20-20: A cada 20 minutos de uso de tela, olhar para algo a 20 pés (cerca de 6 metros) de distância por pelo menos 20 segundos.
• Exposição à luz natural: Estimular atividades ao ar livre, especialmente em crianças, para que elas tenham mais exposição à luz natural.
• Pausas regulares: Intercalar o uso de telas com pausas regulares.
• Postura adequada e distância da tela: Manter uma distância adequada dos dispositivos e boa postura ao utilizá-los.

PREOCUPAÇÃO

Ainda segundo a médica, a miopia pode afetar negativamente a qualidade de vida do indivíduo e, em casos graves, aumentar o risco de complicações oculares mais sérias, como descolamento de retina, glaucoma e catarata. “Por isso, é importante que os pais e responsáveis incentivem hábitos saudáveis, como passar mais tempo ao ar livre e limitar o uso de telas”, ressaltou Mirian.

Os profissionais da saúde também devem estar atentos para realizar exames de vista regulares em crianças, identificar precocemente os sinais de miopia e orientar sobre medidas preventivas. Em alguns casos, intervenções como o uso de lentes de contato especiais ou óculos para controle da miopia podem ser recomendadas para retardar a progressão da condição.

O acompanhamento adequado e a conscientização sobre os fatores de risco são essenciais para mitigar os impactos desse aumento.

SINTOMAS

Alguns sinais podem indicar que a visão está sendo prejudicada como visão embaçada, dores de cabeça frequentes, sensibilidade à luz, olhos cansados ou dor nos olhos, dificuldade para enxergar à noite, visão dupla, apertar os olhos frequentemente, ver halos ou reflexos ao redor das luzes, olhos lacrimejantes ou secos, entre outros.

Questionada sobre a diferença entre a miopia genética e a miopia causada por fatores ambientais, como a exposição excessiva a telas e outras atividades que exigem visão de perto, a médica explicou alguns pontos: a miopia genética pode ser hereditária, herdada dos pais, e esta pode se manifestar durante a infância, tendendo a progredir mais rapidamente, resultando em graus mais altos de miopia, porém ela pode se estabilizar na fase adulta. Já a miopia por fatores ambientais (incluindo o uso de telas), tem uma progressão mais lenta.

Em resumo, enquanto a miopia genética é determinada por fatores hereditários e tende a resultar em graus mais altos, a miopia associada ao uso de telas e fatores ambientais pode ser evitada ou reduzida com mudanças no estilo de vida. Ambos os tipos podem coexistir, o que torna importante o monitoramento regular da visão, especialmente em crianças.

“O problema real é o esforço que os olhos fazem quando ficamos muito tempo expostos a telas, seja TV, computador ou celular”, finalizou a especialista.