Giana Rodrigues

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) que, em 1987 criou o Dia Mundial sem Tabaco, comemorado no dia 31 de maio, o tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas por ano, no mundo, sendo líder global das causas de mortes evitáveis.

A data é um convite para o início de uma nova vida sem tabaco e um alerta sobre as doenças e riscos relacionando saúde e tabagismo.

O Jornal de Jales visitou o Ambulatório de Saúde Mental e traz informações e depoimentos importantes sobre o Programa Estadual de Controle do Tabagismo, implantado na cidade em 2009 e pelo qual já passaram 1.342 pessoas, com índice de 70% de cessação do fumo.

Criado pelo Ministério da Saúde com o INCA-Instituto Nacional do Câncer, o programa é desenvolvido pelos municípios, e a coordenadora em Jales, a terapeuta ocupacional Soraya Barbur Prandi, lembra que “o alerta da campanha deste ano é voltado para proteção das crianças à influência da indústria do tabaco”.

Ainda segundo ela, atualmente “existe uma falsa percepção de que se pode substituir o cigarro tradicional pelo eletrônico, mas estudos já demonstram o enorme prejuízo à saúde”, afirma.

“A indústria do tabaco trouxe o consumo da nicotina através dos dispositivos eletrônicos: narguilé, cigarro eletrônico, vape – para despertar a curiosidade dos jovens, e com isso aumentar o número de fumantes dependentes. Eles causam uma dependência mais rápida pela nicotina e o aquecimento de certos componentes causam lesões no pulmão e problemas respiratórios. O narguilé também pode transmitir várias doenças pelo compartilhamento do bocal”, alerta Soraya.

O PROGRAMA

“De 15 anos para cá, quando o Programa começou, a procura aumentou significativamente porque na rede de saúde criou-se uma cultura antitabagismo”, conta a coordenadora do Ambulatório, Ana Alice Freitas de Castilho Andreo.

“Ao longo dos anos o Programa foi melhorando em relação aos insumos e o nível de cessação do tabagismo é muito satisfatório”, comenta Ana Alice.

São 4 reuniões estruturadas do Programa e elas são ilustradas para que o paciente veja a realidade.
A equipe conta que alguns pacientes chegam para procurar o projeto ainda resistentes, mas “com as reuniões, com o uso do adesivo que diminui gradativamente a nicotina no sangue, e das medicações, a pessoa já consegue notar a diferença em sua vida”.

Todo o processo acontece com acompanhamento da psicóloga Amanda Moreira de Souza: “o tabagismo está ligado aos transtornos mentais como ansiedade, que é uma das queixas principais. No grupo existe uma mudança de comportamento, o paciente passa a entender qual o papel do cigarro em sua vida”, relata.

Após deixar de fumar, existe uma melhora significativa na ansiedade, com a mudança de hábitos e da maneira de pensar. “O fumante é muito excluído e alguns até da própria família, então parar de fumar ajuda na autoestima e na socialização, melhora a depressão e transtorno de ansiedade”, afirma a psicóloga.

A profissional também informou que, quando há necessidade, o paciente pode ser acolhido individualmente pela psicologia até estar pronto para o processo em grupo. Ambulatório de Saúde Mental: Rua Sete, 2957, Centro, (17) 3632-1294/ 99632-5344. Atendimento de segunda a sexta-feira das 7h às 17h.

RELATOS

O Jornal de Jales também ouviu pacientes do programa que contaram suas experiências e histórias de sucesso na cessação do fumo.

Márcia Guilhermina de Lucena, 61 anos

“Embora você tenha consciência do problema que o tabaco te causa durante a vida você não consegue dimensionar esse mal.

Todas as toxinas que são liberadas que estão no cigarro a maioria das pessoas não sabe. Aprendemos o que essas toxinas causam no organismo, como afetam todos os sentidos como o paladar, visão, a pessoa só consegue discernir isso depois que para de fumar.

Ela acha que tinha uma qualidade de vida e ela vê que não tinha. Quando você diz: eu vou parar de fumar, uma sensação de perda surge porque a gente não tem noção dos ganhos. Tem que focar nos ganhos.

Depois é uma surpresa! Sem o programa seria impossível eu parar de fumar; quando eu entrei – após um nódulo no pulmão em 2021, que não é cancerígeno, pensei: como pode uma pessoa que tem nódulos no pulmão pode colocar essas toxinas no pulmão? Pensava no meu bem estar e no prazer que o cigarro traz.

Fui muito apoiada pela minha filha e minha neta que contribuíram muito. Mas eu sabia que não conseguiria sozinha, entrei falando que iria tentar, já tinha tentado sozinha outras vezes, mas o programa é um trabalho completo. Fumei 45 anos e estou há 8 meses sem fumar.

Logo que entrei no programa, meu marido que era fumante, parou também, pois a cada encontro eu ia passando pra ele e ia conscientizando-o até que ele também conseguiu”.

Márcia Guilhermina de Lucena, 61 anos

Delson Luiz Ferreira, aproximadamente 35 anos fumando

“Sempre digo que Deus manda anjos para nossas vidas, uma ex-namorada que trabalha na área da saúde encontrou comigo e me falou sobre o Programa, disse que fumar não combinava comigo e me incentivou.

Faz cerca de 4 anos que parei de fumar. Era época da pandemia, então meus atendimentos foram individuais. Eu já pensava em parar de fumar, me preocupava com a saúde, e pensava em me aposentar e não precisaria mais da muleta que era o cigarro pra mim. No começo já tratamos um dia pra eu parar de fumar, no princípio foi muito difícil, mas consegui.

Um ano após eu fiz 60 anos, tomei a primeira dose da vacina de Covid e logo depois peguei a doença e fiquei grave, fui internado na UTI, e os médicos falaram que eu tive uma chance muito maior por ter parado de fumar há mais de um ano – isso me favoreceu e me salvou, porque fiquei com 70% do pulmão comprometido na época. O incentivo e acolhimento do programa foram muito importantes para mim”.

Delson Luiz Ferreira, aproximadamente 35 anos fumando

José Antonio André, 77 anos

Era fumante de cigarro de palha há quase 60 anos e está prestes a completar 1 ano sem fumar. A filha Adriana Figueira André foi quem o acompanhou durante todo o processo no Programa.

“Ele começou com rouquidão e pigarro, procuramos o Hospital de Amor e o médico viu uma lesão na garganta dele, e já naquela consulta meu pai se assustou com tudo o que poderia passar se fosse um câncer – ele queria parar de fumar e queria uma ajuda. Procurei o posto de saúde e fui orientada para levá-lo ao programa – a gente não imagina tudo que tem no cigarro, cada vez que ele via os vídeos ele assustava e os livrinhos foram dando muita força pra ele parar.

As reuniões ele nunca perdeu, confesso que não acreditei que meu pai ia parar e ele conseguiu. Depois disso é outra vida, graças a Deus não deu câncer, era um fungo. O ganho de qualidade de vida é enorme”. “Ando de bicicleta duas vezes por dia, o gosto dos alimentos é outra coisa, a respiração é melhor, estou mais disposto, mudou a minha pele e ganhei peso”. A filha conta que as sobrancelhas e boca dele eram queimadas- a surpresa da evolução dele foi muito importante para nós.

José Antonio André, 77 anos

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