Quem acompanha o andamento da campanha eleitoral, especialmente o horário gratuito nas redes de rádio e televisão, não raras vezes fica perplexo com a mesmice das mensagens transmitidas por candidatos a cadeiras na Câmara Federal e Assembleia Legislativa.
Exceto raríssimas exceções, o pessoal que pleiteia um lugar ao sol na política limita-se a prometer saúde, educação, habitação, bons salários, ruas asfaltadas, como se o espectador/ouvinte fosse acreditar naquilo tudo.
Por esta razão, quando alguém levanta uma bola diferente, as redações de jornais impressos, emissoras e até as mídias digitais abrem espaço para divulgar e até analisar tal proposição.
Foi o que aconteceu há 30 dias quando, fora do horário eleitoral, Edinho Araújo (MDB), prefeito de São José do Rio Preto, a maior cidade da região, propôs aos eleitores que, ao decidir seus votos, optem por candidatos que tenham vinculação com o noroeste paulista.
Para reforçar a linha de pensamento e fazer a cabeça dos menos letrados, Edinho cunhou uma expressão bem popular que virou manchete de cabo a rabo: voto de “porteira fechada”;
Na opinião dele, para o bem da região, os eleitores dos 102 municípios deveriam escolher para representá-los candidatos que, se eleitos, pudessem abraçar as mais legítimas aspirações dos moradores de nosso espaço geográfico.
No desdobramento da proposta “porteira fechada”, ele recomendou aos eleitores que, na hora do voto, deem preferência a quem mora na região ou quem tem atuação permanente por aqui.
Elegante, o prefeito, que está no quarto mandato em Rio Preto, tendo passado antes pela prefeitura de Santa Fé do Sul, onde nasceu, exercido três mandatos de deputado estadual, dois de federal e sido ministro, não indicou nomes, nem mesmo de seu filho carnal, Edinho Filho, candidato a deputado federal.
A tese é instigante e, a bem da verdade, não é nova. Em 1982, depois de amargar 10 anos de cassação pela ditadura militar, Roberto Rollemberg reapareceu na cena política como candidato a deputado federal empunhando a bandeira da representatividade política regional.
Em tom didático, RR dizia que, por exemplo, uma região como a de Jales, situada a 588 quilômetros de São Paulo e a 700 de Brasília, sedes do poder decisório em nível estadual e nacional, deveria ter representantes com assentos no Poder Legislativo, até como forma de fazer chegar aos donos da caneta reivindicações justas da população.
Repetindo a pregação como se fosse um mantra, Rollemberg conseguiu sensibilizar parte significativa do eleitorado regional, o que redundou em sua eleição para a Câmara Federal e a do então jovem prefeito de Santa Fé, Edinho, para a Assembleia Legislativa.
A dobradinha dos dois se consolidou de tal forma que, eleitos em 82, foram reeleitos em 86 e 90. Depois, vitimado por um tumor no cérebro, RR se retirou da política.
Desta forma, mesmo reconhecendo o direito que o eleitor tem de votar em quem quiser, de acordo com suas convicções ideológicas, o voto no formato “porteira fechada” pode ser o caminho das pedras para que a região ganhe ainda mais musculatura em termos político-administrativos.

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