As novas gerações podem até se surpreender, mas houve um tempo, principalmente entre meados dos anos 70, durante os 80 e no início dos 90, em que Jales explodia em todos os setores.
O carnaval não era exceção. Nos salões, Clube do Ipê e Jales Clube disputavam, milímetro a milímetro, a primazia de fazer os bailes mais concorridos, com concurso de rainhas e princesas, foliões mais animados, fantasias luxuosas e criativas, tudo sob o crivo de gente que entendia do riscado. Claro, como não existia o VAR, de vez em quando rolava uma polêmica no final da festa;
Dizia-se que Jales promovia o melhor carnaval de salão do interior paulista. Bairrismo à parte, havia um fundo de verdade.
Afinal, durante uns 10 anos, os bailes ipeanos foram animados pela banda Jair Supercap Show, a mesma que chacoalhava o réveillon no Ilha Porchat Clube, seleto clube da Baixada Santista, com transmissão ao vivo da TV Bandeirantes.
De sua parte, a diretoria do Jales Clube não deixava barato. Para tanto, recorria ao que havia de melhor em bandas de baile, reforçadas com instrumentos de percussão, para satisfazer seus milhares de associados.
O bom de tudo é que carnaval em Jales não era só de salão, com acesso restrito a associados de clubes. O povo também tinha vez no domingo e na terça-feira assistindo aos desfiles de escolas de samba e blocos, inicialmente na avenida Francisco Jalles. Depois, a passarela do samba foi transferida para a Rua 11.
A disputa era ferrenha e em determinado período nada menos do que quatro escolas de samba mostravam seu ritmo e o gingado de suas cabrochas: a pioneira Capela, os universitários dos Acadêmicos do Sambatuque e Sputinik e, durante dois anos, os Anjos da Raça do Jardim Paraiso.
Vale lembrar que, em 1986, até o Clube do Ipê montou sua própria escola de samba e saiu às ruas da cidade com o enredo “Sol, dourado sol”, criado pelo saudoso José Moreira, ex-jogador de basquete e servidor municipal, cujo samba-enredo foi puxado pelo já mencionado Jair Supercap Show.
O encerramento apoteótico dos desfiles era feito pelo Bloco dos Sujos, grupo tradicional com cada integrante fantasiado a seu bel prazer. E, na maioria das vezes, ironizando figurões ou fatos ocorridos durante o ano.
Como tudo na vida, os tempos mudaram. Foram várias as causas do esfriamento, algumas de costumes em nível nacional, e uma outra de fundo regional —o advento dos ranchos nas orlas de Santa Fé do Sul, Três Fronteiras, Rubineia, Santa Clara d’Oeste , Santa Albertina e até do outro lado do rio Paraná, em Aparecida do Taboado, atraindo multidões de famílias jalesenses.
Só para que o leitor tenha ideia, levantamento feito pela Secretaria de Turismo de Santa Fé do Sul no início dos anos 90 apurou que, dos ranchos lá existentes, 600 eram de jalesenses.
Pois bem, este passado de glórias vai ser parcialmente revivido neste domingo de carnaval, 27 de fevereiro, com uma roda de samba no Clube do Ipê, do meio dia às 10 da noite, com integrantes dos Acadêmicos do Sambatuque e Sputinik
A roda de samba de hoje, pelo que contém de saudosismo sadio, é imperdível!

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